
A água e o lume. Houve a certeza de que somente um banho quente me esqueceria. Seja apenas, talvez, a vontade de um neófito em transpiração e elegância úmida diante do espelho. Ainda insiste nesse ritual nostálgico e incompleto com a torneira fria, meu anjo? As despedidas fazem isso comigo... Alguma piedade, resgate de planos velhos e decorridas promessas e, na mais infeliz das vezes, a prontidão com que se protege as ilusões. Procuro sempre odiar aqueles que ficam.
Aos joelhos reverencio azulejos. Desliza por mim na válvula a minha própria mão, com a liberdade do refluxo e do banheiro. É permitido entrar de roupa e tudo. Um corpo insensível ao calor: atermia do pensamento no vapor de desenhos e meninos... Bis bald, qie können die Deutsche auch sagen... Tudo o que parece cair do ar em abundância escorre sobre mim como afeto, brinco de me desfazer com o que emana do chão. Entre o jeans aberto e a meia suada, sento-me junto ao rio.
Intemperado e sem comedimento, mais um banho meu. Desses em que se transbordam lembranças prolongadas. Meus óculos se embaçam. Num eflúvio insistente do peito e da coxa, a camisa branca me cinge cada vez mais e já não existe... Seu corpo é muito bonito, garoto. A mais azulada e macia toalha me espera. Por quanto fossem impassíveis o tempo e o ralo, sem nenhum medo da solidão eu me deixaria.
Quem quisesse um nome descortinado às horas encontraria um bilhete em meu bolso. A respiração ofega. Guardei-o com todo o zelo. Mas, veja... dissolveu-se na fidelidade da água. Apenas uma mancha, que pena. Na ausência parca da memória, ele pode ser para sempre o meu timunitinho. Sorriso. A resistência aquece o líquido em silêncio. A melancolia não existe nos pêlos ensopados das minhas costas. Nossa boca nunca se perdeu onde as palavras se esquecem.
O lume e a água. Ouço a música que me oferece em segredo... A corrente desvela a virilidade das minhas pernas. Esta semi-nudez esconde o que não havia em mim. Assim eu canto? Canta. As paredes já cumpriram o seu papel. Um eco jamais se arrepende... Ressoa e se rende cada vez mais à minha voz.
Bis bald...
Bis bald... Bis bald...
No vapor, espelhos também perdem o prestígio.
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