Capitanias

Limite do para — li mito do par.
Lema: Tu, do ar.

Limo-lume... método?

Imite do para e do par.

Mim — tudo pára.
Minto do par.

dopar.

o par.

a-m(é)im.

Que sorriam os mais velhos dentre nós:

sábado, 26 de julho de 2008

Férias II

Há muito tempo eu queria saber o que era uma cimitarra .


Essa foi a intrigante arma branca que, nalguns rpg's atrás, eu escolhera pra mim. "Uma espada diferente", sim. Fatalmente, esse é tipo de curiosidade efêmera que só se satisfaz na surpresa.

A música subiu, atravessando os três andares de teatro lotado. Mais pelo convite de última hora (recebido no meio da tarde de tédio enamorado) que por qualquer proesa de engenho cênico, meu espírito se permitia envolver à atmosfera da coisa, até as dançarinas retornarem para o segundo ato.

E lá estavam elas... equilibradas com destreza circense. Como podiam não escorregar sobre os cabelos invejamelmente lisos daquelas mulheres lânguidas, a rebolear os ventres? Houve o impressionado que perguntasse "São tesouras gigantes?". Não, criança... você não as reconheceria. Você nunca foi um pirata*.

Assim minha curiosidade efêmera se satisfez em grande estilo. Com hábeis e provocantes bailarinas, castiçais, os sete véus, pirâmides cenográficas e iluminação especial. Achei válido.



*A título de jogo, pouco relevante é saber se são pra piratas ou pra cameleiros árabes.


terça-feira, 22 de julho de 2008

Férias I

Foto: Relógio de sol em Ibitipoca. Do meu amigo Ranvier.


Quando me vejo diante de um momento estupidamente agradável — destes que, vez ou outra, se desconhece as razões de ser agradável — ou diante de um momento curiosamente emocionante, que tão distintamente se afirma emocionante, tenho o hábito de me divertir pensando que aquele poderia marcar o início da história da minha vida.

No último fim de semana, a história da minha vida começou diante de uma placa em que se lia: "PASSAGEM PROIBIDA, RISCO DE ACIDENTE" — dava até vontade de atravessar. Só não o fiz porque o precipício era tão intimidante quanto belo, talvez intimidante por ser belo, ou bem alto, sei lá. Limite que, para mim, era melhor mesmo só contemplar. Quem já teve o imenso prazer de conhecer o Parque estadual do Ibitipoca, pode dar o parecer.

Hoje
é possível fazer, via e-mail, uma previsão climática para até 15 dias em qualquer lugar do planeta. Ontem mesmo eu discutia com o Rodrigo sobre a nossa ingenuidade em sequer termos, antes de viajar, procurado fotos do lugar no google. Mas até que nossa ignorância nos rendeu uma interessante (e primitiva) sensação de "desbravadores do desconhecido".

Meus
amigos, eu não poderia imaginar que apenas 80 km me separavam daquele paraíso. A cidadezinha é pacata, e tudo responde pelo sufixo "Ibiti". A padaria é Ibitipão, a casa noturna (acredite, tem casa noturna) é "Ibitilua", e assim segue com ibitipraças, ibitigrejas e ibiticéteras... Mas o que interessa mesmo é o Parque Estadual. Em fim de semana se paga 10 reais para entrar — estudante, meia. Já aviso que se não tiver disposição pra subir morro a pé, é melhor ficar em casa lendo blogs.

Quando se vê grutas em filmes e fotos, você pode até pensar. "É só um buraco escuro". Mas quando se está dentro de uma, envolvido por todo aquele clima de aventura, você tem a CERTEZA de que é um buraco frio e escuro... Decerto, com ou sem ironias escorrendo nas pedras, isso faz toda a diferença. Entre precipícios e grutas muitas cachoeiras belíssimas (e geladas) compõem o trajeto. Tem até uma "prainha". E o que dizer do pôr do sol? Foi o ocaso mais fantástico que poderia fechar um dos meus dias.

Quando
me vejo diante de um momento assim, tenho o hábito de me divertir pensando que aquele poderia marcar o fim da história da minha vida...

Pena
foi eu não ter conhecido a famosa "janela do céu", a queda d'agua mais alta do parque, tida como uma das mais belas paisagens do lugar. O bom é que eu não saí de lá sem motivos pra voltar, não é mesmo?

Fica
aí uma excelente sugestão de viagem. Eu recomendo... Aproveito para agradecer a todos que têm elogiado o Limite do para mim. É muito bom saber que estão gostando. Tenho um carinho especial por cada um.


P.S. Que tal um comentário? Não é todo dia que você se depara com um IBITIPOST!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Uma vez no museu

Foto: minha.

Normalmente pego dois ônibus para o colégio em que dou aula, ontem, sem grandes motivos, tomei um só e fui caminhar a pé. Observando o caminho, o qual passa despercebido quando se está motorizado, fui surpreendido pela nova fachada do Museu Mariano Procópio, a alguns meses em reforma — que legal, pensei. Naquele momento me vieram lembranças, das quais já não tenho os detalhes, mas que dizem justamente daquele velho museu em sua fase de abandono.

Tudo em função de um trabalho de química, no último ano do ensino médio. Fomos em bando pesquisar sobre produtos usados na restauração de peças e o tipo de reação química que decorria daquilo. Lembro que com uma ou duas ligações marcamos um horário com a curadora do Museu, e, no sentido de notificar o leitor, deixo claro que nosso "bando" se resumia a cinco pessoas, já que mais que isso não era permitido.

Era uma senhora bem morena, muito atenciosa, mas, se me lembro bem, carregada de uma inquietação e uma angústia profunda quando falava do museu. Após algumas intruções básicas, que não deviam ser usadas há muito tempo, começou por nos apresentar o que havia de secular na área externa do museu, fato que não incitou muito interesse no grupo, ansioso por ver o que havia atrás da grande porta ao nosso fundo.

Após algumas anotações e uma instigante palestra sobre efeitos da chuva na cara do D. Pedro II, atravessamos a grande porta que dava num amplo salão. Havia lá muitos quadros, algumas peças de louça, e algumas esculturas de gregos nus. Perdoem-me pela descrição pueril, é com os olhos do adolescente que o faço. Ao lado, onde não nos foi permitido entrar, era possível ver uma belíssima sala toda mobiliada, onde estavam expostos os pertences dos nossos imperadores. No meio do salão haviam cadeiras para os visitantes.

Assentados ali, ouvimos a curadora falar sobre a forma de desgaste e conservação das peças e as substâncias usadas na restauração, para a consistência da nossa pesquisa. Nessa fala, ela se referiu à sala onde a restauração era feita, e cujo estado era lastimável. Atentos nas anotações, acabamos por dar à mulher espaço para um discurso indignado, que oscilava entre notas graves e agudas. Foi então que ela resolveu nos levar à tal sala.

Terminado o lamento, o museu foi lentamente se transformando diante dos meus olhos. Agora era possível ver as inflitrações, as caliças despencando do teto, as rachaduras nas paredes e o desgaste do chão. No fundo do salão havia uma escada que descia para os fundos e dava acesso a um outro prédio — o exato lugar em que a curadora queria nos levar.

Chegando lá, entendemos a gravidade da situação. Depois de passar a chave na porta e dispor de uma certa força para abri-la, a mulher nos pediu que entrássemos com a precaução de olhar para o chão. Era um corredor escuro, de onde vimos saltar em vôo uma daquelas bruxas, as amáveis mariposas gigantes. Lugarzinho sinistro. Classicamente vestido de teia de aranha, o corredor em ruínas nos levou para o fim da trajetória. Momento em que presenciamos o choro lacrimoso da mulher.

Hoje, alguns anos depois da visita, é gostoso ver o Mariano Procópio restaurado. Só quero saber se a tal salinha de restauração está bem arejada e os pertences do D.Pedro II estão bem guardados. Acho que vou reunir aquele grupo e dar uma ligadinha pra simpática e indignada curadora.

P.S. Fica aqui uma sugestão bacana para os professores de química.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Maré de Sorte

Foto: Site oficial da Adriana Calcanhoto, sem permissão.


Fui no show da Adriana Calcanhoto, no último domingo, no Cine Theatro Central. Ela apresentou seu novo disco, Maré.

Apresentação de disco novo é aquela coisa, você não sabe cantar nada, e tudo parece um pouco igual. Divertido era apostar numa música antiga, que a Adriana vez e outra dava o gosto em cantar. Nada disso tirou o encanto, é claro, de ver tanta presença de palco e tanto talento numa cantora que não parece ter mais de 1,55 de altura — Tudo bem que eu estava lá na galeria, tava caro o show, e essa coisa de um-cinco-cinco é trauma coletivo. Mas o fato é que só uma pequena colher de espírito basta pra afirmar que foi maravilhoso.


Rodrigo queria Devolva-me, mas não foi. Eu chutei Vambora. Na alusão de "fundo de mar" que o palco passava, eu me percebi apertadíssimo para o banheiro. Mesmo não querendo perder nem um minuto do show, levantei. Descobri que seguindo todo o corredor do terceiro andar até o toalete, tem-se uma excelente vista superior do palco. Na porta do banheiro, fui surpeendido. "Entre por essa porta, agora... e diga que me adora, você tem meia hora, pra mudar a minha vida..." Foi impossível não segurar um pouquinho e me debruçar sobre a grade para vê-la de perto. Eu sabia que ia gastar bem menos de meia-hora no banheiro e que mesmo que entrasse por aquela porta eu não mudaria a vida dela. Mas inevitável foi não adorar tudo aquilo.


Melhor que pagar menos e ter uma vista melhor do show, é se sentir homenageado pela Adriana Calcanhoto quando se vai no banheiro.


Complexo dos cinco centavos


Depois do escândalo com o prefeito Alberto Bejani, que na verdade não causa tanto quanto seu "parentesco" com a atriz global Elizabeth Savalla, nós juiz-foranos ganhamos de contra-reação a desconfortável sensação de não ter moedinhas. A passagem abaixou. E lá estão os vales da máfia: impressos, culpados. Acredito que o mal-estar coletivo da corrupção se refletiu justamente ali — no coletivo.

A cidade acorda cedinho. E a cartela de vale-transporte, na carteira, na mochila, ou na bolsinha, boceja na espera do troco.

Ninguém se choca com o político ladrão. Isso não tira mais o sono de nenhum brasileiro, se é que um dia tirou. Mas a moedinha que falta... ah, essa sim. — Um minutinho, por favor. Reclamam o trocadores. Aí, pronto. O desconforto coletivo lota o coletivo a cada estalo da roleta, a cada minuto que se põe em espera, a cada moedinha que não existe, a cada gota de aflição na testa enrugada do homem atrás da roleta.

O anti-herói juiz-forano, sem culpa, e tão odiado, é o porta-voz da crise. — Não, seu trocador, não tenho moeda, nem carro importado. Risos. Levanta o rapaz para a senhora se assentar. —Tenho não, moço, fui roubada. O casal pergunta ao motorista se passa no shopping. — Moeda, tenho não. Mas eu vi no MGTV que vão imprimir vales novos, né? Acende a enjoada luz verde, destravando o giro. O menino pede o troco. — Peraí, fio, tá difícil hoje.

O que todo mundo espera é que cedo ou no atraso, em pé ou sentado, o coletivo chegue seguro no ponto final.

Foto: Dia doscientos veinticuatro by orig-ing (modificada)