Capitanias

Limite do para — li mito do par.
Lema: Tu, do ar.

Limo-lume... método?

Imite do para e do par.

Mim — tudo pára.
Minto do par.

dopar.

o par.

a-m(é)im.

Que sorriam os mais velhos dentre nós:

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Um quadro — Les raboteurs de parquet - Gustave Caillebotte.



Foi folheando um livro de arte o meu encontro com esse quadro. Acho válida a "descoberta" de algo bacana assim, sem referências prévias — uma espécie de intimidade que se cria entre você e a obra...
Limitando, esse óleo sobre tela de 1875 é considerado impressionista e se encontra no Musée d'Orsay em Paris. Nunca tinha ouvido falar de Caillebotte, e acredito que a maioria de vocês também não. Eu o escolhi justamente por ter sido uma surpresa feliz tê-lo encontrado um dia.

Como ver o quadro:
É claro que eu não seria infeliz em propor uma regra de leitura. Cada um que tenha a sua impressão. É só olhar aí e ver como ele é legal. Mas algumas considerações podem ser feitas. O principal traço impressionista é o jogo com a luz. Em outras palavras, as "impressões" desse estilo constituem aquilo que a luz revela — e nada mais. É a luz que dá a cor e as formas. No impressionismo, perde-se os limites dos objetos. Caillebotte, a meu ver, não é um impressionista típico, como Monet ou Renoir, em que esse "indefinismo" impressionista é muito característico (aquelas pinceladas rápidas, um montão de cor...), mas é bem notável, principalmente nos corpos dos trabalhadores, a idéia de que só distinguimos bem o que a luz mostra, o resto vai se perdendo aos pouquinhos na sombra. É justamente esse "perder aos pouquinhos" que marca o impressionismo. E não adianta tentar ver de perto: o quadro é mais visível mesmo a uma relativa distância.




Imagem - roubei da página do museu D'orsay. O link tá lá.
Foto do post anterior - roubei de outro blog: arquitetura em parâmetros.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Bis bald



A água e o lume. Houve a certeza de que somente um banho quente me esqueceria. Seja apenas, talvez, a vontade de um neófito em transpiração e elegância úmida diante do espelho. Ainda insiste nesse ritual nostálgico e incompleto com a torneira fria, meu anjo? As despedidas fazem isso comigo... Alguma piedade, resgate de planos velhos e decorridas promessas e, na mais infeliz das vezes, a prontidão com que se protege as ilusões. Procuro sempre odiar aqueles que ficam.

Aos joelhos reverencio azulejos. Desliza por mim na válvula a minha própria mão, com a liberdade do refluxo e do banheiro. É permitido entrar de roupa e tudo. Um corpo insensível ao calor: atermia do pensamento no vapor de desenhos e meninos... Bis bald, qie können die Deutsche auch sagen... Tudo o que parece cair do ar em abundância escorre sobre mim como afeto, brinco de me desfazer com o que emana do chão. Entre o jeans aberto e a meia suada, sento-me junto ao rio.

Intemperado e sem comedimento, mais um banho meu. Desses em que se transbordam lembranças prolongadas. Meus óculos se embaçam. Num eflúvio insistente do peito e da coxa, a camisa branca me cinge cada vez mais e já não existe... Seu corpo é muito bonito, garoto. A mais azulada e macia toalha me espera. Por quanto fossem impassíveis o tempo e o ralo, sem nenhum medo da solidão eu me deixaria.

Quem quisesse um nome descortinado às horas encontraria um bilhete em meu bolso. A respiração ofega. Guardei-o com todo o zelo. Mas, veja... dissolveu-se na fidelidade da água. Apenas uma mancha, que pena. Na ausência parca da memória, ele pode ser para sempre o meu timunitinho. Sorriso. A resistência aquece o líquido em silêncio. A melancolia não existe nos pêlos ensopados das minhas costas. Nossa boca nunca se perdeu onde as palavras se esquecem.

O lume e a água. Ouço a música que me oferece em segredo... A corrente desvela a virilidade das minhas pernas. Esta semi-nudez esconde o que não havia em mim. Assim eu canto? Canta. As paredes já cumpriram o seu papel. Um eco jamais se arrepende... Ressoa e se rende cada vez mais à minha voz.

Bis bald...

Bis bald... Bis bald...

No vapor, espelhos também perdem o prestígio.